Arquivo de fevereiro de 2010

28 de fevereiro de 2010 postado por Gustavo - 11:52 3 Comentários »

Eu sei que este espaço deve ser, preferencialmente, dedicado a assuntos artísticos mas, como tenho um grave defeito a julgar pelos padrões cultuados hoje em dia, vou fazer um parêntesis e abordar um tema que me parece até urgente: a ética.  A palavra ética tem origem no vocábulo grego “ethos” que significa algo como hábitos e modo de ser, certamente baseados em valores que estão contidos num indivíduo.  A filosofia trata da ética no âmbito da sociedade como um todo, como componente fundamental visando o bem da comunidade.  Pois bem, quando nos deparamos com manchetes nos meios jornalísticos, revelando escândalos envolvendo políticos (representantes do povo), tomando de assalto o dinheiro dos impostos, duramente recolhidos por uma população que é formada em sua esmagadora maioria por pobres ( não se iluda pensando que apenas a classe média paga impostos, pois é impossível sobreviver em uma sociedade moderna sem contribuir ), não consigo deixar de considerar que a culpa é nossa… Toda a população de nosso país é responsável por esse recorrente comportamento de nossos ilustres representantes. Não, de maneira simplista, por terem elegido esses que hora nos assaltam, mas, principalmente, por termos aberto mão de cultivar o respeito e apreço por valores morais, hoje considerados antigos e ultrapassados, que, contudo, serviriam de freio, impedindo que a natureza maliciosa e egoísta dos indivíduos, dominasse seus pensamentos e ações.    Hoje em dia vivemos em um país no qual seus habitantes, pasmem, valorizam a “esperteza” dos indivíduos que, ocupando cargos e funções públicas, agem de maneira deletéria, chegando mesmo ao ponto de confessar que, caso tivessem tal chance, fariam o mesmo. Onde se pretende chegar com tal modo de pensar? Traçando um paralelo com a questão da ecologia, seria o mesmo que, repentinamente, todos resolvessem, insanamente, derribar toda a floresta amazônica, a fim de usufruir de seus recursos naturais, inconsequentemente desconsiderando o impacto de tal desatino em futuro próximo. Se pretendemos ter políticos de melhor qualidade, é necessário cuidarmos, imediatamente, em sermos cidadãos de melhor qualidade. Não há outro meio. Afinal, esses políticos que causam tanta “indignação”, com uma incômoda crescente frequência,  são simples espelhos da nossa sociedade. Se nossa covardia nos permitir, poderemos, patéticamente, nos ver refletidos neles.

Gustavo.

14 de fevereiro de 2010 postado por Gustavo - 10:30 2 Comentários »

Uma ilustração é, de maneira simplificada, um acréscimo visual agregado a um texto, que tem por objetivo complementá-lo, acrescentado informações ou, simplesmente, decorando-o.
O ilustrador deve ser, antes de tudo, um exímio desenhista, capaz de fazer frente as mais inusitadas demandas, ou seja, enfrentar desafios constantes e sair-se bem deles.
É possível imaginar ilustradores profissionais especializados em temáticas específicas ou segmentos em particular. Não é razoável supor-se que um único indivíduo seja capaz de possuir uma performance expoente em todas as áreas de aplicação da ilustração. Porém, face ao concorrido mercado de trabalho que está presente em todas as profissões ( não sendo diferente no mercado de ilustradores ) é inegável que um profissional com mais “jogo de cintura” estará melhor municiado para enfrentá-lo.
A primeira providência que o aspirante a ilustrador teve tomar é a de aprender a desenhar com desenvoltura e competência, não poupando esforços no sentido de atingir um grau elevado de desempenho.
A seguir, desenvolver-se nas técnicas de pintura e colorização utilizando-se dos materiais com os quais intencione trabalhar. Faço um parêntesis para observar que aqueles que pretendam utilizar-se de meios eletrônicos (softwares) para executar seu trabalho, não devem abrir mão de desenvolver, apriorísticamente, seu aprendizado em técnicas de pintura tradicionais, a fim de interagir com elas e compreender de forma prática, os recursos e meios para lograr alcançar resultados técnicamente competentes. A febre dos computadores tem levado muita gente a superestimá-los, imaginando que eles são capazes de tudo, quando, na verdade, apesar de excepcionais ferramentas, ainda carecem do atributo da inteligência, uma vez que este é, até o presente momento, exclusivo da espécie humana.
Uma vez decidido a levar a efeito trabalhos de ilustração digital, é indispensável o conhecimento do software que será utilizado e empregar ao trabalhar, preferencialmente, uma tablet.
Finalmente, manter-se informado a respeito daquilo que está sendo objeto de demanda pelo mercado, buscar encontrar um nicho em que pretenda desenvolver-se com maior profundidade e nunca parar de estudar e aprender.
Não se acomodar e buscar sempre novos conhecimentos e habilidades é marca registrada daqueles que levam sua profissão a sério, seja ela qual for.

Gustavo.

13 de fevereiro de 2010 postado por Gustavo - 15:37 5 Comentários »

Eventualmente (as vezes com mais freqência do que seria desejável), aparece por aqui, no Idarte, alguem com um discurso mais ou menos nesses termos: “Sabe, copiar até que eu copio bem, o que eu quero é aprender a criar!”… Quando sou eu o premiado a atender o portador de um tão profundo anseio, a primeira providência que tomo é a de respirar fundo, municiar-me da maior quantidade de paciência que possa obter e, a seguir, discorrer a respeito daquilo que, acredito, possa significar a declaração acima. A fim de tentar facilitar meu trabalho e, quem sabe, evitar ocorrências semelhantes, passo a esclarecer, aqui, para todos aqueles que tem dúvidas similares, o que é possível ser feito para atingir esse objetivo.

Em primeiro lugar ( e é aí que reside a parte “sombria” da coisa toda ) é preciso ser capaz de entender o que o aspirante a artista tem em mente quando diz “aprender a criar“. Minha experiência me tem mostrado que, na sua esmagadora maioria, todos aqueles que se expressam dessa forma desejam, invariávelmente, se tornarem hábeis artistas ilustradores, sem, contudo, dedicarem anos de trabalho, esfôrço e suor, galgando um a um os degraus que os separam desse objetivo. É curioso notar que, em todas as oportunidades que tive de me deparar com um caso desses, em nenhum deles o interlocutor era capaz de “copiar bem”  como afirmava ser.

Um equívoco comum a todos eles me parece ser o desejo de serem capazes de desenhar com maestria qualquer coisa, sem utilizarem-se, para tanto, de referências visuais. Em última análise, desejam serem capazes de desenhar “de memória” ( o indefectível “criar”). Abro um parêntesis para lembrar uma declaração atribuída ao pintor Pierre-Auguste Renoir (mestre e expoente do impressionismo) a respeito desse tema. -“Posso pintar flores de memória, porém serão todas iguais”. Com isso, deixava patente a capacidade limitada da nossa memória, seletiva que é ao armazenar informações ( excluo a absolutamente ínfima minoria da população mundial portadora de um atributo conhecido como “memória fotográfica”, por motivos óbvios). Renoir pintou inúmeros e belíssimos quadros, sempre observando os jardins de sua residência…

Muitos se deixam levar pelo entusiasmo ao verem alguem desenhando sem estarem observando nada a sua frente. Ignoram, contudo, quantas vezes aquele indivíduo repetiu esse gesto. Quantas vezes, no início, não conseguiu um resultado digno de admiração? Por outro lado, existem pessoas que se dedicam a tentar desenhar um tema qualquer em particular e, depois de muito tentar, memorizam a fórmula para conseguir um resultado satisfatório. No entanto, qualquer outro tema que não esse, lhe causará um grande constrangimento, face a sua incapacidade de resolvê-lo.

Os desenhistas dignos desse título, capacitam-se a qualquer tema, independentemente de sua preferência pessoal ( todos temos preferências temáticas nas quais, via de regra, nosso desempenho é otimizado ). Não digo que todos os artistas devam se tornar exímios em todas as técnicas, longe disso. No entanto,  desenhistas não devem se sentir limitados por, pasmem, simplesmente não saberem desenhar.

Vivemos um tempo de “pressa de tudo”. A rapidez é marca registrada de nossa sociedade. As pessoas tem pressa em atingir resultados, metas, objetivos… Só não se lembram de que, em alguns casos, não se encontrou um substituto para a dedicação. E dedicação demanda tempo! A tendência de ganhar tempo tem levado muitos a queimar etapas em seu aprendizado, tendo, como consequência, ou uma formação deficiente e ineficaz ou uma frustante desistência por acreditar que a ausência de resultados expressivos é fruto de sua inabilidade ou falta de talento, quando na verdade tal se deveu, simplesmente, a sua exagerada pressa em chegar.

“Como ganhar na loteria”, “Como ganhar seu primeiro milhão antes dos trinta anos”, títulos como esses lotam as prateleiras das livrarias. Será que alguem já parou para pensar que se, de fato, alguem tivesse a fórmula para ganhar na loteria ou ficar rico facilmente, por que razão estaria escrevendo livros e tentando ganhar dinheiro com eles?

Estejam certos de que, se um dia, descobrirem a fórmula para substituir o trabalho, o esforço e dedicação, a vida perderá grande parte de seu tempero e as conquistas de cada um não terão maior significado do que o cabisbaixo chutar de uma pequenina pedra que, vez por outra, teima em aparecer em nosso caminho.

Gustavo.

2 de fevereiro de 2010 postado por Gustavo - 18:59 13 Comentários »

Se você que lê estas palavras é considerado por alguém como um bom desenhista, talvez já tenha ouvido uma pergunta parecida com a do título deste post. E aí, então, por que você consegue desenhar e outras pessoas não?

Muitos consideram a capacidade de desenhar como uma prerrogativa de uns poucos privilegiados, contemplados que foram pela natureza com alguma espécie de dom, cuja dimensão e origem é intangível.  Dessa forma, por mais que se esforce, aqueles que não são possuidores desse atributo inexplicável, não conseguirão, jamais, galgar os degraus que o conduziriam a um desempenho pouco melhor que a de reproduzir uma irreconhecível figura em uma folha de papel.

Se você faz parte do grupo que pensa assim, acredito que deva começar a mudar de idéia.

Ser capaz de desenhar é, antes de tudo, ser capaz de ver! Ao orientar meus alunos rumo a uma bem-sucedida performance artística, o mais importante aspecto de seus aprendizados é o de auxiliá-los a desenvolverem sua percepção visual.

Portanto, a habilidade de desenhar é inata em alguns indivíduos apenas porque eles vêem, enxergam, percebem a realidade de u’a maneira diferente da maioria das pessoas.

Há inúmeras técnicas que apoiam o candidato a desenhista, mas nada substitui o desenvolvimento da capacidade de enxergar corretamente e, mais específicamente, enxergar de maneira adequada para esse fim.

Concluindo, se você deseja desenvolver essa capacidade (a de desenhar), saiba que todos podem fazê-lo, basta querer.

Um slogan utilizado para divulgar um concurso que premia anualmente os melhores na propaganda nacional era “Nada substitui o talento”. Parafraseando esse texto eu me arrisco a dizer: “Nada substitui a vontade”.

Gustavo.