EU QUERO APRENDER A “CRIAR”!…

13 de fevereiro de 2010 postado por Gustavo - 15:37 5 Comentários »

Eventualmente (as vezes com mais freqência do que seria desejável), aparece por aqui, no Idarte, alguem com um discurso mais ou menos nesses termos: “Sabe, copiar até que eu copio bem, o que eu quero é aprender a criar!”… Quando sou eu o premiado a atender o portador de um tão profundo anseio, a primeira providência que tomo é a de respirar fundo, municiar-me da maior quantidade de paciência que possa obter e, a seguir, discorrer a respeito daquilo que, acredito, possa significar a declaração acima. A fim de tentar facilitar meu trabalho e, quem sabe, evitar ocorrências semelhantes, passo a esclarecer, aqui, para todos aqueles que tem dúvidas similares, o que é possível ser feito para atingir esse objetivo.

Em primeiro lugar ( e é aí que reside a parte “sombria” da coisa toda ) é preciso ser capaz de entender o que o aspirante a artista tem em mente quando diz “aprender a criar“. Minha experiência me tem mostrado que, na sua esmagadora maioria, todos aqueles que se expressam dessa forma desejam, invariávelmente, se tornarem hábeis artistas ilustradores, sem, contudo, dedicarem anos de trabalho, esfôrço e suor, galgando um a um os degraus que os separam desse objetivo. É curioso notar que, em todas as oportunidades que tive de me deparar com um caso desses, em nenhum deles o interlocutor era capaz de “copiar bem”  como afirmava ser.

Um equívoco comum a todos eles me parece ser o desejo de serem capazes de desenhar com maestria qualquer coisa, sem utilizarem-se, para tanto, de referências visuais. Em última análise, desejam serem capazes de desenhar “de memória” ( o indefectível “criar”). Abro um parêntesis para lembrar uma declaração atribuída ao pintor Pierre-Auguste Renoir (mestre e expoente do impressionismo) a respeito desse tema. -“Posso pintar flores de memória, porém serão todas iguais”. Com isso, deixava patente a capacidade limitada da nossa memória, seletiva que é ao armazenar informações ( excluo a absolutamente ínfima minoria da população mundial portadora de um atributo conhecido como “memória fotográfica”, por motivos óbvios). Renoir pintou inúmeros e belíssimos quadros, sempre observando os jardins de sua residência…

Muitos se deixam levar pelo entusiasmo ao verem alguem desenhando sem estarem observando nada a sua frente. Ignoram, contudo, quantas vezes aquele indivíduo repetiu esse gesto. Quantas vezes, no início, não conseguiu um resultado digno de admiração? Por outro lado, existem pessoas que se dedicam a tentar desenhar um tema qualquer em particular e, depois de muito tentar, memorizam a fórmula para conseguir um resultado satisfatório. No entanto, qualquer outro tema que não esse, lhe causará um grande constrangimento, face a sua incapacidade de resolvê-lo.

Os desenhistas dignos desse título, capacitam-se a qualquer tema, independentemente de sua preferência pessoal ( todos temos preferências temáticas nas quais, via de regra, nosso desempenho é otimizado ). Não digo que todos os artistas devam se tornar exímios em todas as técnicas, longe disso. No entanto,  desenhistas não devem se sentir limitados por, pasmem, simplesmente não saberem desenhar.

Vivemos um tempo de “pressa de tudo”. A rapidez é marca registrada de nossa sociedade. As pessoas tem pressa em atingir resultados, metas, objetivos… Só não se lembram de que, em alguns casos, não se encontrou um substituto para a dedicação. E dedicação demanda tempo! A tendência de ganhar tempo tem levado muitos a queimar etapas em seu aprendizado, tendo, como consequência, ou uma formação deficiente e ineficaz ou uma frustante desistência por acreditar que a ausência de resultados expressivos é fruto de sua inabilidade ou falta de talento, quando na verdade tal se deveu, simplesmente, a sua exagerada pressa em chegar.

“Como ganhar na loteria”, “Como ganhar seu primeiro milhão antes dos trinta anos”, títulos como esses lotam as prateleiras das livrarias. Será que alguem já parou para pensar que se, de fato, alguem tivesse a fórmula para ganhar na loteria ou ficar rico facilmente, por que razão estaria escrevendo livros e tentando ganhar dinheiro com eles?

Estejam certos de que, se um dia, descobrirem a fórmula para substituir o trabalho, o esforço e dedicação, a vida perderá grande parte de seu tempero e as conquistas de cada um não terão maior significado do que o cabisbaixo chutar de uma pequenina pedra que, vez por outra, teima em aparecer em nosso caminho.

Gustavo.

5 comentários para “EU QUERO APRENDER A “CRIAR”!…”

  1. Sabe de uma coisa… lendo isso, dou mais valor as minhas pequenas descobertas cotidianas. Como por exemplo, o quanto é prazeiroso lavar a louça, e essa sempre trará uma satisfação imediata. rs Precisei descobrir essas satisfações, pra conseguir ter paciência com as outras, as de longo prazo, essas como desenhar, que a gente precisa aprender com o tempo, com o treino, com uma forma nova de olhar, desenhar é como aprender a se relacionar, leva tempo, dedicação e paciencia.
    A paciência só vem se temos paz, e só temos paz se confiamos, a nossa geração tem uma crise muito grande, quase um abismo entre a pratica e a teoria, não é só porque quer tudo naquele instante e sem esforço, mas porque esqueceu como é encontrar satisfação em acordar num dia de sol, ou ver uma quaresmeira nessa época do ano, demorei tanto pra entender isso.
    Gosto tanto dos seus textos que fico sempre com vontade de estar ai com vocês ouvindo isso pessoalmente!!!
    E já que não posso agora, tagarelarei por aqui!!!! rs beijinhos em todos por ai!

  2. admin disse:

    Oi, Pri, muito bom “ler” você novamente. Quanto ao seu belo e irretocável post, permita-me fazer algumas observações… Qualquer marmanjo que ler o que você escreveu, deveria, imediatamente, verificar se você está disponível para um relacionamento sério (leia-se casamento), uma vez que você já está descobrindo o inigualável prazer que as atividades domésticas proporcionam. O verdadeiro Nirvana sómente será alcançado após uma sessão de algumas horas passando roupa…rsss. Desculpe a brincadeirinha, você me conhece, não pude evitar… É claro que você está absolutamente certa em tudo que escreveu e, acredite, entendi perfeitamente. No que diz respeito ao acordar em um dia de sol… bem, eu confesso que, como já disse inúmeras vezes, eu sou mais por um belíssimo dia nublado e sujeito a chuvas e trovoadas ( bom para “colher cogumelos venenosos” como diria Madame Min, rsss). No mais, fico muito agradecido pelas suas palavras derradeiras, repletas de um sentimento que nos alegra e até envaidece. Você é “a cara”.
    Beijos,
    Gustavo.

  3. Diego Marques da Silva disse:

    Confesso que já fui um desses que acham que o bom desenhista é aquele que sabe desenhar de tudo de memória e que com alguns poucos anos de estudo me tornaria “o cara” nos desenhos rs.Mas hoje, com quase 10 anos estudando desenho e a 3 estudando computação gráfica percebi que aquela velha e batida frase :a pressa é inimiga da perfeição, faz, para mim, cada vez mais sentido.Infelizmente nem todos os meus colegas de aula que estudam CG perceberam ainda isso e acham que após terminarem o curso ou algum módulo de programa irão miraculosamente se tornar bons profissionais.

  4. lais disse:

    klkklklkklklklklkklklklklkllllllllllllkkkkkkkkkkkkkkklllllllllllllllkkkkkkkkkkkkkkkkllllllllllllllkkkkkkkkkkkkkkkklllllllllllllll

  5. karla disse:

    eu amo isso